Flup homenageia este ano historiadora e ativista Beatriz Nascimento

As múltiplas identidades de Beatriz Nascimento – historiadora, professora, escritora, intelectual e ativista pelos direitos humanos dos negros e das mulheres – serão lembradas pela Festa Literária da Periferia (Flup), em diferentes atividades ao longo de 2024. No dia 11 de maio, será realizada será O evento que apresenta a agenda anual foi realizado no Rio de Janeiro. O legado deixado por Beatriz será homenageado na mesa de abertura, quase dez anos após a sua morte.

“Nesta 14ª edição, o festival celebra uma obra que despertou outro imaginário brasileiro e se desdobrou em uma nova geração de intelectuais e escritores que transformaram o cenário cultural. A escritora Conceição Evaristo e a filósofa Helena Theodoro farão parte da homenagem ao amigo e companheiro ativista”, diz nota divulgada nesta segunda-feira (15) pelos organizadores.

Desde 2012, quando começou, o Flup acontece todos os anos. O festival, que já resultou na publicação de mais de duas dezenas de livros de autores da periferia do Rio de Janeiro, foi destaque em 2020 no Prêmio Jabuti, a mais tradicional premiação literária do país. A Flup venceu na categoria Promoção de Leitura. No ano passado, foi aprovada uma lei na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro que declara o festival patrimônio cultural imaterial.

Os organizadores costumam levar as atividades para territórios tradicionalmente excluídos da programação literária. Já passou, por exemplo, pelo Morro dos Prazeres, Vigário Geral e Ladeira do Livramento. O evento que apresenta a agenda anual de 2024 será no Circo Crescer e Viver, espaço criado em 2021 na região central do Rio, onde são desenvolvidos projetos que valorizam a arte como ferramenta pedagógica e que beneficiam crianças, adolescentes e jovens.

A programação é gratuita e terá início às 12h com feijoada. A mesa de abertura está marcada para as 13h. Ao longo da tarde, mesas irão debater diversos temas. Antes de cada um deles, haverá o Sarau Beatriz Nascimento, no qual serão recitados poemas da autora e da homenageada. Para encerrar as atividades, o Pagode da Gigi promoverá uma roda de samba formada inteiramente por mulheres.

Homenageada da edição, Beatriz Nascimento é autora de diversos textos nos quais reflete sobre questões relacionadas ao feminismo, ao racismo, à luta quilombola e à resistência cultural negra, entre outros temas. Por sua atuação, foi agraciada com o título de Mulher do Ano 1986, concedido pelo Conselho Nacional da Mulher do Brasil (CNDM), órgão criado pela Lei Federal 7.353/1985. Também se aventurou no cinema, tendo feito parte do equipe que lançou o longa-metragem Oh, em 1989. O documentário, dirigido por Raquel Berger, traz discussões sobre o movimento negro e foi produzido a partir da pesquisa de Beatriz. O historiador também atua como narrador.

Nascida em Sergipe em 1942, Beatriz Nascimento formou-se em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na capital carioca, desenvolveu sua carreira até perder a vida em um crime brutal. Em janeiro de 1995, ela foi baleada diante de testemunhas em um bar do bairro de Botafogo, zona sul da cidade. O assassino era o ex-companheiro de uma amiga, de quem Beatriz aconselhou a separar-se depois de ouvir as suas denúncias de violência doméstica. Julgado, foi condenado a 17 anos de prisão.

“Ao homenagear Beatriz Nascimento, a Flup traz o conceito de agregação quilombola, comunidade e luta como base de sua programação anual”, afirmam os organizadores. Anunciaram também que o programa anual abrirá espaço para uma rede de 100 acadêmicas negras, criada pelas pesquisadoras Thaís Alves Marinho e Rosinalda Simoni. Ao longo de 2024, esses intelectuais participarão de outros eventos que acontecerão em espaços periféricos da cidade do Rio. Também será lançado um livro com a história de cada uma dessas 100 mulheres, com o título Dicionário biográfico: histórias entrelaçadas de mulheres afrodiaspóricas.

2024-04-16 15:58:00