Escola de Brasília denuncia racismo e preconceito durante jogo

A Escola Franciscana Nossa Senhora de Fátima, em Brasília, relatou nesta sexta-feira (12) um caso de racismo contra alunos da instituição, ocorrido durante uma partida de futebol realizada no início do mês. Segundo a escola, durante a brincadeira, alunos do Colégio Galois, também da capital federal, proferiram palavras ofensivas aos alunos da escola Fátima, como “macaco”, “filho de empregada doméstica” e “coitado”. escolas.

Segundo a escola Nossa Senhora de Fátima, embora vários funcionários da outra escola estivessem presentes no local, nenhuma ação adequada foi tomada na altura. “Os alunos agressores estavam na sua maioria fardados, ou seja, estavam sob a guarda e responsabilidade do Colégio Galois que, neste caso, se mostrou cúmplice da situação humilhante e vexatória vivida pelos alunos da Escola Fátima”, refere o diretor em um comunicado. -geral da escola, Inês Alves Lourenço.

A escola também defende que o preconceito racial e social não deve ter lugar em nenhum ambiente, principalmente na escola. “É inadmissível que no século XXI ainda tenhamos de assistir a atos tão repugnantes como os dirigidos aos nossos atletas”, afirmou o diretor, garantindo que os factos narrados serão remetidos à coordenação do campeonato desportivo e à esquadra competente .

O Colégio Galois considerou gravíssimos os fatos expostos e informou que não é insensível ao ocorrido. “Nos solidarizamos profundamente com os alunos e comunidade do Colégio Franciscano Nossa Senhora de Fátima que se sentiram ofendidos e magoados”, disse o diretor pedagógico, Angel Andres, em comunicado.

Segundo o diretor, já foi instaurada uma rigorosa investigação interna sobre o caso. “Temos o compromisso não apenas de identificar os envolvidos, mas também de aplicar medidas disciplinares e ampliar ainda mais as ações educativas pertinentes e necessárias. Mais uma vez reiteramos que supostos comportamentos não representam nossos valores e que repudiamos veementemente qualquer forma de discriminação.”

O deputado distrital Gabriel Magno (PT-DF), presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura da Câmara Legislativa do Distrito Federal, informou que presidiu o Conselho de Educação do DF e entrará em contato com os órgãos competentes. “Atos racistas são inaceitáveis ​​em qualquer espaço, especialmente em espaços escolares, bem como a omissão dos responsáveis. É fundamental reforçarmos o nosso compromisso com os direitos humanos e a educação antirracista”, afirmou a deputada nas redes sociais.

Treinamento abrangente

Os termos utilizados pelos alunos para ofender os colegas falam não só de raça, mas também de classe social. A avaliação é da professora Gina Vieira Ponte, formada em português e especialista em desenvolvimento humano, educação e inclusão escolar.

“Neste caso específico, é preciso refletir sobre como para os alunos ‘ser filho de empregada doméstica’ ou ‘ser pobre’ é algo de que alguém deveria se envergonhar, ou algo que torna alguém suscetível de ser desumanizado, humilhado ou envergonhado ,” ele disse Agência Brasil.

Segundo ela, por trás desse discurso está a ideia de que acumular bens materiais e exibi-los é um indicador de sucesso na vida.

A professora destaca ainda que as escolas deveriam priorizar a formação integral, democrática, cívica e humanizadora, mas muitas vezes reduzem o seu trabalho à formação para passar em provas.

    A professora Gina Vieira Ponte, que se destacou pela criação e execução do Projeto Mulheres Inspiradoras, recebe a Medalha Mietta Santiago, prêmio que visa valorizar iniciativas relacionadas aos direitos das mulheres
    A professora Gina Vieira Ponte, que se destacou pela criação e execução do Projeto Mulheres Inspiradoras, recebe a Medalha Mietta Santiago, prêmio que visa valorizar iniciativas relacionadas aos direitos das mulheres

Professora Gina Vieira Ponte – Marcelo Camargo/Arquivo Agência Brasil

“Treinar alguém para passar em um teste específico é relativamente fácil. Formar um ser humano numa perspectiva integral, crítica, cívica, socialmente referenciada é algo muito mais complexo”, pontua, lembrando que, dependendo das famílias dessas crianças e adolescentes, o acesso aos discursos racistas começa em casa.

Embora existam leis que determinam a inclusão da história e da cultura afro-brasileira no currículo escolar, a professora acredita que não há vontade política para garantir o cumprimento dessa determinação, o que também reflete na falta de iniciativas voltadas à formação de profissionais da educação. para que levem o tema para a organização do trabalho pedagógico.

“É fundamental que a educação antirracista ou a educação para promoção da equidade étnico-racial não seja trabalhada de forma esporádica e episódica, com eventos que não estejam vinculados ao conteúdo a ser ministrado, mas sim numa perspectiva curricular integrada e integradora, que traz a educação em direitos humanos, com foco na promoção da equidade racial em todo o currículo, estruturando todos os conteúdos a serem ministrados e orientando todas as práticas e relações na escola”, afirma Gina.

2024-04-13 01:28:00