Brasil já perdeu 34 milhões dos 82,6 milhões de hectares da Caatinga

O Brasil já perdeu 34 milhões de hectares dos 82,6 milhões de hectares de Caatinga, alertou o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ​​(Ibama), Rodrigo Agostinho, durante participação em seminário técnico-científico sobre o bioma. No encontro, que contou com a presença da ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, ele apresentou os desafios para que a meta do desmatamento zero seja estendida à vegetação nativa predominante no Nordeste brasileiro.

Agostinho destacou as características que apontam para a necessidade de uma política pública específica para o bioma, como o alto grau de exclusividade de espécies que já sofreram transformações devido à atividade humana.

“A caatinga tem 60% da área ocupada por vegetação nativa, da qual boa parte já passou por contínuos processos de antropização, como corte raso, queimadas repetidas, extração seletiva de vegetação e animais, introdução de espécies exóticas”, afirma.

Com essa ocupação já se sentem efeitos como a desertificação de mais de 10% do bioma, que na visão de Agostinho deve ser enfrentado com a criação de unidades de conservação, recuperação da vegetação nativa e criação de dados de conservação para plena proteção e uso sustentável.

A melhoria do licenciamento ambiental e a demarcação dos territórios das populações tradicionais foram outras necessidades elencadas pelo presidente do Ibama. “Temos muita população tradicional que normalmente não é reconhecida, como os caipiras, e isso é um desafio, porque, de repente, chega um projeto e essas pessoas são rapidamente expulsas das suas áreas”, destacou.

Brasília (DF), 13/10/2023, O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, durante coletiva de imprensa sobre seca e queimadas no Amazonas.  Foto: José Cruz/Agência Brasil
Brasília (DF), 13/10/2023, O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, durante coletiva de imprensa sobre seca e queimadas no Amazonas.  Foto: José Cruz/Agência Brasil

Presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho. Fotografia: José Cruz/Agência Brasil

A transição energética também exige um olhar atento para a Caatinga, na visão de Agostinho, que lembrou que embora o crescimento da energia eólica e fotovoltaica seja desejado pela região, isso não pode acontecer à custa do desmatamento da vegetação nativa “Não faz Faz sentido colocar energia eólica e solar no desmatamento de grandes áreas de caatinga, só porque o preço da terra é mais barato.”

Na análise da instituição, para enfrentar o desmatamento, os efeitos das mudanças climáticas, a extinção de espécies e as queimadas na Caatinga é preciso ir além das políticas de combate e controle.

“No ano passado retomamos a fiscalização da Caatinga, retomamos nossas ações com força, com estratégia, aumentamos os autos de infração em 69%, aumentamos as multas em quase 600% só no bioma, ampliamos os embargos, ou seja, talvez, a estratégia mais importante no combate ao desmatamento, temos aumentado a apreensão, mas o que percebemos é que precisamos de estratégias robustas para combatê-lo”, reforça.

A ministra Marina Silva concordou com Agostinho e lembrou que esse olhar diferenciado para cada bioma brasileiro é uma das prioridades nas políticas públicas que vêm sendo desenhadas pelo governo federal.

Ela lembrou que o Plano de Transformação Ecológica apresentado pelo Ministério da Fazenda no ano passado, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) de 2023, é um exemplo disso, ao considerar instrumentos econômicos e sociais para cada bioma. “Combater o desmatamento e o desmatamento é um compromisso político, é um compromisso ético e é um compromisso social, estético, porque esse mundo de diversidade é maravilhoso”, afirmou.

2024-04-16 21:34:00