Paço Imperial mostra arte, design e cultura ribeirinha da Amazônia

A exposição itinerante Caboclos da Amazônia: arquitetura, design e música chega ao Rio de Janeiro onde ocupa o primeiro andar do Paço Imperial, na Praça XV de Novembro, região central da cidade, a partir de 17 de abril. A entrada é gratuita.

A exposição é idealizada pelo designer paraense Carlos Alcantarino e retrata o modo de vida das populações mais simples da região amazônica. A visitação será de terça a domingo e feriados, das 12h às 18h, e permanecerá aberta até o dia 7 de julho.

Morador do Rio de Janeiro desde 1982, Alcantarino sempre retorna ao Pará, onde tem parentes. Começou a fotografar e observar arte, cultura, desenhista e modo de vida da população ribeirinha, durante seus deslocamentos pelas ilhas de Belém e braços de rios da região, com a proposta inicial de realizar um livro de arte sobre arquitetura ribeirinha.

Porém, a ideia de expor todo esse rico material cultural e artístico surgiu durante um congresso de arquitetura no Rio, quando recebeu o convite para montar a exposição, da qual é curador. “A ideia cresceu e acabou por se transformar nesta exposição que tem várias divisões”, disse Carlos Alcantarino Agência Brasil.

Apresentada pelo Ministério da Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a exposição apresenta mais de 300 peças diversas, organizadas em quatro categorias: arquitetura e interiores, objetos, letras e música, envolvendo o rico universo de expressões artísticas do estado do Pará.

“Abridores” de cartas

Exposição Caboclos da Amazônia, no Paço Imperial.  - Artista: Abridores de Letras.  Foto: Carlos Alcantarino
Exposição Caboclos da Amazônia, no Paço Imperial.  - Artista: Abridores de Letras.  Foto: Carlos Alcantarino

Exposição Caboclos da Amazônia. Abridores de cartas. Foto: Carlos Alcantarino

A categoria cartas é dedicada aos chamados “abridores de cartas”. O curador explicou que todos os ribeirinhos possuem um barco que tem nome. E esse nome é pintado pelos abridores de cartas. “Existe um artesanato na Amazônia onde as pessoas pintam essas letras em barcos. É o que chamei de ‘design’ gráfico amazônico. É uma profissão que passa de pai para filho; É uma característica única da Amazônia e varia de região para região.”

Segundo Alcantarino, mesmo na Amazônia cada região tem sua diversidade cultural, letras e estilo próprios. “Essa é uma cultura muito interessante, e o que eu chamei de letras seria o design gráfico amazônico. São os pintores, ou abridores de cartas, nome poético”, disse. Durante a abertura da exposição, dia 17, às 15h, haverá uma ‘performance’ do “abridor de cartas” paraense Idaias Dias de Freitas.

Arquitetura ribeirinha

A segunda sala da exposição remete à arquitetura e reúne fotos de vilas de pescadores e fachadas de casas ribeirinhas. “Eles têm uma característica muito interessante, do ponto de vista arquitetônico. São casas bem inseridas na mata e, para proteção contra enchentes, as casas são elevadas. As cores que eles usam também são muito legais”, destacou o curador.

Interiores

A terceira sala contempla o interior das casas dos caboclos amazônicos que, segundo Alcantarino, não têm qualquer ligação com o resto do país. “O minimalismo não é para eles. Eles fazem o que gostam, o que querem. O interior das casas é extremamente colorido, muito fora do comum.”

A última sala é dedicada aos objetos de “design” amazônico. “Optei por mostrar os objetos de uma forma mais interessante. Para isso, fiz algumas instalações, com foco em objetos ameaçados de extinção, como pipas, também chamadas de papagaios”, explicou.

Exposição Caboclos da Amazônia, no Paço Imperial.  - Barco.  Foto: Carlos Alcantarino
Exposição Caboclos da Amazônia, no Paço Imperial.  - Barco.  Foto: Carlos Alcantarino

Exposição Caboclos da Amazônia, no Paço Imperial. – carrinho de sucata. Fotografia: Carlos Alcantarino

Alcantarino também mencionou os carrinhos de barbear, também chamados de raspadinhas (carrinhos que possuem mesa para colocação do equipamento de barbear gelo, e suporte para dispensadores de bebidas). “O carrinho onde vendem líquidos com gelo já é um objeto de design interessante. Há também instalações com brinquedos de miriti, bem típicos da região”, destacou.

Miriti

No município de Abaetetuba, no Pará, a transformação ocorre a partir da parte interna do caule de uma palmeira chamada miritizeiro. Em breve, barcos, animais, bonecos e outros brinquedos miriti estarão prontos para encantar crianças e adultos. O brinquedo miriti é tombado como patrimônio histórico-cultural imaterial pelo Iphan.

Exposição Caboclos da Amazônia, no Paço Imperial.  - brineuedos de Meriti.  Foto: Carlos Alcantarino
Exposição Caboclos da Amazônia, no Paço Imperial.  - brineuedos de Meriti.  Foto: Carlos Alcantarino

Exposição Caboclos da Amazônia, no Paço Imperial. – Brinquedos Meriti. Foto: Carlos Alcantarino – Carlos Alcantarino

Por fim, a exposição apresenta a parte musical. Alguns vídeos foram produzidos. “Escolhemos três ritmos amazônicos, que são o carimbó, a guitarada e o techno brega. Eu diria que é a música que sustenta todo esse modo de vida amazônico”.

O curador informou que essas músicas agitam as chamadas festas da periferia. Cada clube tem seu próprio equipamento e competem entre si. “Tem festa para 5 mil, 6 mil pessoas. E eles têm um equipamento enorme.”

Oportunidade

A exposição Caboclos da Amazônia: arquitetura, design e música já passou por Belém, São Paulo e Belo Horizonte e agora chega ao Rio de Janeiro. Carlos Alcantarino afirmou que esta é uma oportunidade para os cariocas conhecerem um pouco do povo amazônico. “Porque hoje em dia se fala muito em floresta amazônica, mas pouco se fala sobre o que é produzido na Amazônia; o que produzem as pessoas que habitam a Amazônia. Então esta é uma oportunidade, realmente, de apresentar isso aos moradores”, disse ele.

2024-04-14 19:28:00